segunda-feira, 18 de maio de 2009

O Paisagismo tem dono

O paisagismo tem Dono?
O paisagismo é uma atividade multidisciplinar e é por isso que diferentes profissionais atuam nesta área. É uma atividade complexa, pois consegue interagir em três distintos pilares: arte, ciência e técnica. A inclusão da arte é quando o criador consegue, através de suas emoções e sensibilidade, concretizar sua criação ou idéia com o domínio da matéria prima (papel, madeira, tinta, argila, planta, etc.). A ciência quando consegue justificar, explicar e relacionar a sua criação com os fenômenos da natureza, por exemplo: ciência do solo, clima, botânica, poluição, etc. E finalmente, a técnica que é o próprio exercício da ciência, por exemplo: semeadura, enxertia, aração, poda, etc. Uma delas até independe da graduação pessoal de quem exerce esta atividade, que é a arte. O sentimento artístico não é exclusivo de quem faz algum curso de artes. É claro que, quem faz algum curso desta natureza é muito mais estimulado a desenvolver seus dons artísticos do que outros sem nenhum contato com o mesmo. Mas, não se deve esquecer dos autodidatas, que são artistas natos.

No paisagismo, resultado da interação da arte, ciência e técnica adquirida ou nata, não pode ser esquecido o fator primordial para o seu manuseio, que é a sua matéria prima - a vegetação. Todo e qualquer profissional que é habilitado a exercer suas atividades com sucesso, precisa conhecer profundamente sua matéria prima. Sem este conhecimento fica difícil ou até impossível atingir quaisquer que sejam os efeitos desejados.

Quando se trata de vegetação no paisagismo, que é um elemento vivo, suas relações e seu comportamento não são tão previsíveis como outros elementos arquitetônicos constituídos de matéria prima como: madeira, cimento, ferro, borracha e outros. A vegetação, por ser um elemento vivo, está em constante mudança de cor, tamanho, forma, exigências nutricionais, umidade e luz. Todas estas alterações podem estar intrinsecamente associadas aos processos fisiológicos ou a uma reação às condições ambientais em que as plantas estão submetidas. Sendo assim, mesmo que um profissional leve em consideração uma série de fatores que podem afetar o desenvolvimento das plantas, poderão surgir situações consideradas imprevisíveis. No meio urbano, por exemplo, devido suas características complexas, muitas reações das plantas ao meio podem ainda não ter sido experimentadas e analisadas.

Vários exemplos de fracassos e /ou erros grosseiros em projetos paisagísticos podem ser observados, quando estes aspectos não são considerados, tais como:

a) falta de harmonia das plantas quanto às exigências de umidade em composição paisagística (musgo com cacto);

b) falta de conhecimento quanto às exigências de luz, utilizando-se plantas de sombra no sol e vice-versa;

c) desconhecimento básico sobre solo, colocando-se plantas para desenvolver em restos de construção;

d) desconhecimento do sistema radicular das plantas, colocando árvores em jardineiras rasas;

e) desconhecimento da necessidade de um sistema de drenagem em vasos;

f) falta de conhecimento do hábito de crescimento das plantas, principalmente em pergolados e jardineiras pendentes;

g) falta de conhecimento da altura e diâmetro de copa de árvores, colocação de plantas maiores na frente de plantas menores numa composição ou próximo à estrutura urbana como calhas e alicerces;

h) falta de conhecimento das necessidades fisiológicas da vegetação, cimentando toda a base das plantas, isto acontece principalmente com o plantio de bambus.

Com estes exemplos, surge uma questão: o que é mais importante, bonito no papel ou bonito no jardim? O bom seria os dois aspectos. Mas, sem sombra de dúvida, o que mais compromete a exeqüibilidade do projeto são os exemplos citados acima. Não se pode desvincular a elaboração ou criação do projeto com a implantação e manutenção da vegetação, repassando as responsabilidades para outros profissionais. O profissional que planeja, que se inspira, deve ter o conhecimento e a responsabilidade de todo elemento vivo que é colocado no projeto, inclusive os cuidados para sua plena permanência no local.

Sabe-se que, atualmente o acesso às informações sobre paisagismo (livro, revistas, apostilas e Internet) é muito fácil mas não é como fazer o curso acadêmico, onde se tem contato com a arte, a ciência e a técnica. Os cursos que lidam com plantas e o seu habitat, durante o período de cinco anos, são Engenharia Florestal e Engenharia Agronômica. Mesmo assim, os profissionais destes cursos não são habilitados a assinar um projeto de paisagismo, segundo o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).

Daí surgem outras questões: por que os cursos de Especialização em Paisagismo são abertos para todos os profissionais, se só quem pode assinar um projeto de paisagismo é um arquiteto?

Nota-se que é preciso rever estes valores junto ao CREA para que a habilitação do profissional seja confrontada com a experiência acadêmica (currículo acadêmico). E quanto à competência do profissional, isto o público saberá como aprovar e convalidar sua carreira.

Artigo publicado originalmente em www.floresta.ufpr/paisagem